
Actualmente de acesso muito restrito, esta magnífica obra da arquitetura religiosa setecentista constitui um ótimo exemplo da perfeita comunhão e equilíbrio entre o gosto pelo classicismo e o apego às formas racionais e geométricas do barroco seiscentista, presentes em tantas outras construções da mesma época, espalhadas por Évora e o Alentejo.
Localizada perto do Hospital do Espírito Santo de Évora, no Largo da Pobreza, a Igreja do Senhor Jesus da Pobreza terá sido erigida na década de 1730, fruto dos contínuos esforços do então Cónego da Sé de Évora, António Rosado Bravo, e sob a alçada do muito cobiçado arquiteto alemão João Frederico Ludovice.
Ludovice emigrou para Portugal em 1707, estabelecendo-se em Lisboa como ourives, em primeiro lugar, e mais tarde como arquiteto. Rapidamente se tornou no arquiteto de eleição de El-Rei D. João V, o Magnânimo, conhecido pela fausta riqueza que o seu reinado trouxe a Portugal e por ter sido o responsável por um grande número de majestosas edificações por todo o país, algumas delas dirigidas por João Frederico Ludovice. A mais notável é a construção do monumental Palácio-Convento de Mafra.
Por volta de 1730, Ludovice, sob o patronato de D. João V, mudou-se para Évora com o intuito de concretizar a sua mais recente obra, a construção da esplêndida capela-mor da Sé Catedral de Évora. A nossa Igreja do Senhor Jesus da Pobreza terá sido levada a cabo não diretamente pelo próprio João Frederico Ludovice, mas sim por um dos dedicados mestres que, na época, aprendiam e trabalhavam com o famoso arquiteto de origem germânica.

Ao chegarmos à Igreja do Senhor Jesus da Pobreza, somos imediatamente invadidos por uma sensação de tranquila simplicidade, que nos convida à paz de espírito e ao sossego da alma. Rainha do largo onde está situada, o seu sereno exterior convida-nos a entrar e apenas estar. A sua fachada, de linhas airosas e decoração contida, compõe-se de quatro partes bem demarcadas, mas em proporção harmoniosa, tão características de um barroco já mais neoclássico e do patronato quinto-joanino.
Quando passamos a porta principal, apercebemo-nos que o interior da Igreja desenvolve-se em altura, aproveitando, de forma genial, o espaço irregular sobre o qual está construído. Vemos, igualmente, que este interior está dividido em duas partes que, embora distintas, se interligam de forma funcional e subtil – o vestíbulo/sub-coro e a nave/capela-mor.
A capela-mor da Igreja do Senhor Jesus da Pobreza é uma obra sumptuosa em si mesma e diferente do que se fazia na primeira metade do século XVIII. Construída em hexágono e de tambor iluminado com janelas, o zimbório da sua cúpula é rematado por lanternim, isto é, está coberto por superfícies envidraçadas, por onde entra a luz natural que ilumina o magnífico retábulo em talha dourada. A construção deste excecional zimbório terá sido inspirada pela planta original da Basílica de São Pedro, monumento emblemático da Cidade do Vaticano.

Ainda no interior da Igreja do Senhor Jesus da Pobreza, crê-se que o rico trabalho em talha dourada na capela de Nossa Senhora do Amparo terá sido, igualmente, arte e engenho do mestre do Ó, uma vez que as semelhanças estilísticas com o retábulo que fez para o Convento do Salvador apontam nessa direção.
Monumento original entre os restantes em Évora, a Igreja do Senhor Jesus da Pobreza é um exemplar único da arquitetura religiosa do século XVIII. Local onde história e arte comungam sob a aura de serenidade da luz que inunda o seu singular e ricamente trabalhado interior, esta igreja é de acesso restrito ao público em geral e abre apenas para eventos selecionados. No entanto, e caso tenha a sorte de a encontrar aberta, na sua próxima visita a Évora, não hesite e aproveite a rara oportunidade de visitar este magnífico templo religioso!